Padre Vilson jovem
Construindo labirintos de esperanças

A Catedral Metropolitana, no Centro de Florianópolis, foi a primeira morada do jovem Vilson Groh desde que ingressou  como estudante no Instituto de Teologia de Santa Catarina (ITESC), no bairro Pantanal. Nessa época, começa a trabalhar como estagiário junto aos moradores de rua e a interagir com os migrantes, muitas vezes, famílias inteiras, que chegavam debaixo da ponte Colombo Salles.

Um dia, um domingo de sol, o estudante Vilson Groh subiu o morro do Mocotó pela primeira vez. A comunidade está localizada no maciço do Morro da Cruz, na área central da cidade, região que abriga diversas comunidades além do Mocotó, como a Mariquinha, o Monte Serrat (ou antigo Morro da Caixa), o Morro do Tico-Tico e o Morro do Céu e revela-se uma complexa trama labiríntica a ser desafiada, habitada especialmente por negros e migrantes forçados pelo êxodo rural. 

 

Na entrada do Morro, eu encontro uma pessoa, e uma bela pessoa, Dona Claudete, uma mãe de santo.”

Dona Claudete Regis Machado é a amiga de uma vida toda deste esse momento. “Amor à primeira vista”, como ela mesma diz. A primeira recepção na comunidade foi em uma cerimônia de Preto Velho, entidade representada pelo carisma, a sabedoria e a humildade. O sincretismo entre as religiosidades de dona Claudete e do jovem Vilson os aproximou à medida em que ambos professavam – ela através da umbanda, ele, da fé cristã – um sentimento comum de profunda amizade e respeito. 

“Essa dinâmica do impacto, antropologicamente falando, não é a minha cultura, não é a raiz da minha crença. Então, quando tu olhas o sagrado do outro, tu te permites beber no sagrado do outro, olhar a pele do outro. E quando tu olhas a pele, vês o contexto.”

O acolhimento humano proporcionado por dona Claudete contrastava com a precariedade nos casebres de madeira que se empilham morro acima num vai e vem de chão batido e escadarias improvisadas. O morro contava com mais de 80 nascentes de água e a atividade de lavadeira era a mais comum dentre as mulheres que ali viviam.

Elas só não tinham o básico: água encanada. Ao ir conhecendo a realidade dos moradores do maciço do Morro da Cruz, o estudante Vilson decide que quer morar em alguma comunidade e comunica ao Arcebispo Dom Afonso Niehues. O que mais o impressionou naquele momento foi a realidade da falta de direitos no coração da próspera capital do Estado, “porque quando a gente se acostuma ou naturaliza, a gente convive com normalidade com a desigualdade social.”

 

“E eu me decidi que, quando me ordenasse, o meu ministério tinha que ser dentro dessa realidade. Eu fiz uma negociação com a igreja e fui falar com o bispo para ir direto morar no morro.”

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Na Luta por Pão e Beleza

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