Padre Vilson Groh na mesa com outras pessoas
Dividir o pão e a banana

O filho de dona Adélia Groh e seu Floriano Francisco Groh era uma criança tímida. Nasceu em 24 de abril de 1954 em Brusque, então uma pequena cidade de cerca de 30 mil habitantes, com o entorno de uma comunidade eminentemente agrícola e que agregava a parte urbana em torno da indústria têxtil.

O patriarca dos Groh era contramestre e incentivava os filhos a trabalharem no ofício fabril, ao mesmo tempo em que os aproximava da experiência da vida no chão de fábrica.

Da vivência em uma família operária, desde cedo o menino Vilson aprendeu a dividir. Por exemplo, nas roupas e sapatos que eram bem conservados a fim de passarem dos mais velhos aos mais novos, dentre a vasta prole de 11 irmãos.

Da mãe, herdou a prática da união, a educação do trabalho diário com o cultivo da horta e o apreço pela terra. É na figura materna que reside a imagem da simbologia da família reunida à mesa como sinônimo de acolhimento.

Em uma das lembranças de infância, Padre Vilson rememora a brincadeira entre irmãos em que ele era quem rezava as missas, cortando fatias de banana que simbolizavam a hóstia sagrada e que seriam divididas fraternalmente, e se cobrindo com lençol, que na sua inocência infantil fazia as vezes da casula.

caderneta do nascimento
Quadro com a foto 3x4 de Vilson criança e o texto: “Segundo a minha mãe, ela diz que eu celebrava a missa com quatro anos de idade, partia as bananas, distribuía essas bananas para os meus irmãos e então, ela diz, essa é a tua vocação.”

O curso primário foi feito na Escola Mista Municipal e concluído em dezembro de 1966, mesma data em que recebe a admissão para o curso ginasial do Colégio Cônsul Carlos Renaux, tradicional escola alemã da cidade, idealizada juntamente com a fundação da igreja luterana no final do século XIX, não sem antes comprovar seus conhecimentos em Português, Aritmética, Geografia e História nos quatro dias de provas seletivas. 

Um ano depois, migrou depois para o São Luiz, colégio católico, em 1967, onde permaneceu até o 4º ano em 1970. No primeiro ano do curso ginasial, um revés que se transformaria em aprendizado para a vida. O jovem Vilson não atingiu as notas mínimas para aprovação de ano letivo. 

“É, eu efetivamente rodei no 1º ano, isso é verdade. E esse fato foi uma grande alavanca, porque depois sempre passei nos exames com média alta.”

Aos 13 anos, Vilson foi trabalhar no bar do seu Bento, ponto de encontro dos filiados ao sindicato dos trabalhadores da indústria têxtil. Para além de fazer picolés e sorvetes e atender no balcão, o jovem introspectivo teve nesse período um aprendizado ainda mais peculiar: o exercício da escuta. Foi no atendimento no balcão que aprendeu a ter o traquejo para lidar com as pessoas.

 

“O bar foi uma grande escola de aprender a lidar com o povo. As pessoas bebem e querem falar dos seus problemas. É o aprender a viver com o diferente.”

Contagiado pelos ideais humanistas, Vilson Groh frequentava ativamente a Paróquia de São Cristóvão, onde fez a Primeira Eucaristia ao lado do irmão mais velho, Floriano – e onde seria também ordenado padre anos mais tarde. A partir dos ensinamentos de professores como o padre Osmar Mueller, ingressou no chamado ‘curso clássico’ – equivalente ao atual ensino médio – o jovem que ainda nem completara 15 anos de idade foi concretizando para si a vocação pela vida religiosa.

Grupo de Teatro

Vilson permanece trabalhando no bar do seu Bento, ou bar do sindicato como era chamado, até os 19 anos, período que coincide com o momento em que, após concluir o científico, foi para o Seminário Metropolitano do Educandário Nossa Senhora de Lourdes, ou Seminário de Azambuja, onde concluiu os três anos de estudo do 2º Grau no ano de 1974. Foi lá que enfrentou a extrema timidez com a participação em um grupo de teatro com os colegas.

Ao cursar Filosofia no seminário em Azambuja, teve forte influência do padre Alvino Introvini Milani, com quem aprendeu as práticas de sair do recinto fechado do seminário e conhecer as periferias ao redor. A escassez, a fome alheia, nada mais lhe passaria despercebido sem que houvesse uma reação frente à injustiça social.

“Porque quem descobre o amor tem pressa e a pressa é: eu tenho que me colocar a serviço do outro para construir esse coletivo de acesso de direitos. O despertar é se deixar fluir pelo espírito, porque no fundo também é uma busca de si, é um reencontro consigo mesmo.”

Desde os tempos de seminarista, suas fichas de avaliação comportamental já revelavam o perfil do jovem estudante em quesitos como “Equilíbrio Emocional”, “Formação Espiritual” e “Interação com a Comunidade”. Todas as avaliações relativas à sua conduta emocional apontam unanimidade da banca avaliadora nas principais questões relacionadas ao senso de justiça e sensatez do futuro pároco: “Sabe controlar as emoções? Sim”. “´É agressivo quando ofendido? Não”. “Deixa-se abater por contrariedades e insucessos? Não”. “É sereno e equilibrado ao julgar fatos e pessoas? Sim”. “É apático ou indiferente perante acontecimentos de relevância? Não”. 

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