Profissionais da tecnologia, pesquisadores e empresários se reúnem nesta sexta-feira (14) para o hackathon do primeiro Centro de Inovação Social (CIS) de periferia que será construído pelo Instituto Pe. Vilson Groh (IVG), no Monte Serrat – região central de Florianópolis. Organizado pelo IVG em parceria com a Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC), o evento ocorre na sede da entidade no Itacorubi, das 8h às 17h.
Segundo Tainara Lemos, coordenadora de programas do IVG, a missão é reunir pessoas de diversas áreas e contextos – comunidades do Maciço do Morro da Cruz, universidades, escolas, setor produtivo e poder público – para desenvolver um plano de atividades e sustentabilidade para o Centro de Inovação Social no Monte Serrat.
“A construção do Centro de Inovação Social começa no segundo semestre deste ano. Durante as obras, queremos que diversos atores sociais e econômicos estejam envolvidos, pensando no que este espaço vai oferecer às juventudes em termos de oficinas, espaços físicos e como este centro vai se relacionar com a cidade e as empresas do ecossistema de tecnologia e inovação”, esclarece Lemos.
Participação e impacto
Cerca de 40 pessoas estão envolvidas no planejamento do CIS Monte Serrat. Entre os participantes estão o presidente do IVG, Pe. Vilson Groh, o secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcelo Fett, o diretor de Inovação e Competitividade da FIESC, José Eduardo Fiates, a arquiteta responsável pelo projeto, Tatiana Filomeno, a head de Talentos da ACATE, Ana Elisa Cassal, o gerente de Desenvolvimento Territorial do SEBRAE/SC, Wanderley Andrade, educadores e estudantes da escola social Marista, representantes da comunidade, além de professores da UFSC e do IFSC, empresas, entre outros.
A história por trás do CIS Monte Serrat
Centros de inovação social não são novidade, mas nenhum opera em áreas periféricas na Grande Florianópolis. A ideia de construir um centro na periferia ganhou impulsou em 2017, após uma observação feita por José Eduardo Fiates, diretor da FIESC, durante uma mostra de ciências na escola social Marista Lucia Mayvorne, no Monte Serrat.
“Nós observamos que praticamente todos os polos tecnológicos de Florianópolis estavam em regiões de vulnerabilidade social, onde há muitas crianças e jovens criativos e habilidosos para resolver desafios, algo essencial no setor de inovação. Vimos, portanto, que no ‘morro’ estava a solução para o ‘vale’. Então começamos a trabalhar com o IVG, considerando as demandas do setor, os desafios dessas juventudes e a tecnologia social do Instituto. Temos a absoluta certeza de que esse é o caminho mundial”, explica.
Detalhes sobre o CIS Monte Serrat
O CIS será construído ao lado da escola social Marista Lucia Mayvorne, na Rua General Vieira da Rosa, principal via do Monte Serrat. O acesso ao CIS será totalmente gratuito. A estrutura arquitetônica terá premissas de flexibilidade de uso, baixo impacto no terreno, modelo de construção rápida e de baixo custo, referência de arquitetura e será pensada para ser inclusiva, acolhedora, aberta e sustentável. A inspiração vem de estruturas como a Orquideorama, na Colômbia, o Booth Arts Plaza, na Universidade de Boston (EUA) e o Airbnb, na Irlanda. O CIS contará com praça, biblioteca, auditórios, coworking, salas e laboratórios, além de um espaço gourmet. Estima-se que o CIS impactará cerca de 40 mil pessoas. Atualmente, o IVG atende 300 crianças, adolescentes e jovens nas trilhas formativas do Pode Crer, e com o CIS, esse número deverá dobrar.
Pode Crer começou na pandemia
Dentro deste contexto foi lançado as trilhas formativas do Programa Pode Crer, em funcionamento desde 2021, em espaços provisórios das organizações parceiras do IVG – Centro Cultural Anastácia e Associação João Paulo II. No entanto, a ideia original sempre foi que o Pode Crer funcionasse dentro do CIS Monte Serrat.
Tainara explica que a ideia de iniciar em 2021 foi “lançar um projeto piloto para testar e aperfeiçoar a metodologia de ensino”. Ela relembra: “Começamos o Pode Crer em um contexto pandêmico, cheio de restrições. O patrocínio da Caixa e o apoio do ecossistema de inovação de Florianópolis nos permitiu abrir as turmas com 300 crianças e jovens, comprovando a demanda das juventudes por qualificação para o mercado de trabalho”.
Desde 2021, o Pode Crer já atendeu mais de mil crianças, adolescentes e jovens. Em três anos, aproximadamente 150 jovens acessaram o mercado de trabalho. Outros estão na universidade e em escolas técnicas.
Nesses últimos quatro anos, o investimento financeiro para funcionamento das trilhas formativas supera os R$4 milhões. O recurso é totalmente destinado a oficinas gratuitas, realizadas quatro dias por semana, no contraturno escolar, com educadores sociais qualificados, infraestrutura, auxílio transporte, alimentação e bolsa permanência.
“É um investimento que traz retorno”, afirma Padre Vilson Groh. “O jovem da periferia não é um caso perdido. Ele é um grande capital social, uma força de criatividade e trabalho subaproveitada, mal qualificada e, muitas vezes, perdida para a violência”.
Em 2024, o Pode Crer conta com patrocínio da Caixa e do Governo Federal, do Ministério dos Direitos Humanos, da Fundação Salvador Arena (FSA), ChildFund Brasil, além do apoio dos parceiros FIESC e SEBRAE.