A Páscoa e o Vulcão | A Páscoa passou. Mais uma. Nessa, as celebrações que fiz foram pelo Facebook, vejam só.
E a maioria de nós, sobretudo os mais velhos como eu, não saíram a tarde por aí para conviver e saudar o belo dia de sol. Fora isso, todo o simbolismo foi novamente lembrado e reforçado diante do grande desafio que estamos enfrentando.
Os ritos, as palavras, o exemplo de Jesus, dos seus propósitos, do seu amor e tudo que cerca essa data, ganharam sentido urgente e renovado. Mas como sacerdote nas periferias e militante das causas sociais, encharcado dessa realidade, permito me perguntar se isso basta. Se passada a Páscoa, acordará a linda cidade que vejo agora lá em baixo se despedir do sol, com seu silêncio imposto mas também misterioso. Se bastarão os mais completos exemplos bíblicos, como os da Paixão de Cristo e da Compaixão de Maria, pra mostrar que protegermos uns aos outros da pandemia através do isolamento social é uma obrigação, mas apenas uma parte das nossas responsabilidades.
Tenho me perguntado se como sociedade, todos aí incluídos independente da religiosidade, temos a real dimensão do impacto que a ausência de renda pode causar – e já está causando – nas nossas periferias. Porque a iminência desse colapso social e econômico que acompanha o vírus nos obriga a transformar imediatamente esses entendimentos em ações.
Recebo um vídeo no celular e assisto hipnotizado às imagens de um vulcão na Indonésia que entra em erupção depois de muito tempo. A ausência de vítimas e de maiores riscos permitem me deixar encantar pela potência da natureza, que adormece até o limite para depois acordar com toda a sua força, luz, calor e movimento. Somos nós também parte dessa natureza. Poderemos ser assim no despertar coletivo da compaixão?
Pe Vilson Groh