Formação Continuada e Fortalecimento da Rede

O IVG acredita que fortalecer uma rede é o alicerce para a realização de projetos com impacto real e duradouro nos territórios. Por isso, além das iniciativas voltadas à educação e ao empreendedorismo urbano periférico, o IVG atua de forma permanente como articulador da Rede IVG — um conjunto vivo e dinâmico de organizações sociais que compartilham valores e práticas comprometidas com a defesa dos direitos de crianças, adolescentes e jovens nas periferias da Grande Florianópolis.

Para manter essa rede conectada, ativa e em constante evolução, o IVG desenvolve o Programa de Formação Continuada e Fortalecimento da Rede, uma das suas principais estratégias institucionais. A partir dele, são oferecidos suporte técnico, formação permanente e espaços de escuta, troca e articulação entre as equipes das organizações parceiras.

A atuação acontece de forma cotidiana, por meio de seminários e grupos de trabalho que se debruçam sobre áreas como pedagogia, gestão, comunicação, incidência política e captação de recursos. Esses espaços coletivos são fundamentais para a construção de conhecimento, o alinhamento de práticas e o fortalecimento de vínculos institucionais.

GRUPOS DE TRABALHO NO DIA A DIA

GT de Comunicação

Criado em 2022, o GT de Comunicação tem como objetivo fortalecer as equipes responsáveis pela comunicação das organizações da Rede IVG, apoiando o aprimoramento de estratégias, ferramentas e narrativas, além de proporcionar um ambiente seguro e colaborativo para a troca de experiências e saberes.

Em 2024, os encontros passaram a ser itinerantes, o que permitiu às equipes conhecerem diferentes realidades da Rede e valorizar as organizações anfitriãs, aprofundando vínculos e promovendo maior integração.

Duas ações estratégicas marcaram o ano:

GT de Comunicação

Iniciativa criada para aproximar os conteúdos do Relatório Social do IVG das equipes das organizações. O Giro surgiu da percepção de que havia certo distanciamento entre os dados institucionais e as equipes de base, o que comprometia o senso de pertencimento e o entendimento do trabalho em rede. Lançado logo após a publicação do Relatório 2023, o Giro tem promovido esse alinhamento de forma acessível, participativa e significativa.

Conduzido pelos jornalistas voluntários Adriana Laffin e Raul Schmidt, da Apoio Comunicação, o seminário ampliou a compreensão das equipes sobre a relação com a imprensa. Foram abordadas orientações práticas sobre como se posicionar diante de câmeras e entrevistas, reforçando o papel estratégico da comunicação institucional no fortalecimento do impacto social.

GT de Captação de Recursos

Com o propósito de fortalecer a sustentabilidade financeira das organizações da Rede IVG e potencializar o impacto de seus projetos, o GT de Captação promove encontros voltados à troca de conhecimento, à aplicação de estratégias eficazes de mobilização de recursos e ao fortalecimento de uma rede de colaboração.

Em 2024, os encontros abordaram temas como Leis de Incentivo, com destaque para as formações oferecidas por Mariana Kadletz (Incentive de Verdade) e a participação da Rede no evento Capacitar, promovido pela Engie. Também foram discutidos temas como Indicadores, Emendas Parlamentares e Pitches de Impacto.

GT de Comunicação

Realizado nos dias 7 e 8 de novembro, o evento consolidou reflexões e aprendizados do GT, promovendo oficinas de escrita e apresentação de projetos, com apoio de mentores. No encerramento, uma banca formada por investidores em negócios de impacto selecionou três organizações para aporte de recursos:

  • Centro Cultural Anastácia, com projeto de preparação para o mundo do trabalho;
  • Escola Social Lucia Mayvorne, com projeto de qualificação do espaço de atendimento a estudantes;
  • Casa de Acolhimento Darcy Vitória de Brito, com projeto de formação em comunicação não violenta.

GT de Incidência

O GT de Incidência Política tem como missão fortalecer a atuação das organizações da Rede IVG na defesa e garantia de direitos, por meio do acompanhamento crítico das políticas públicas e da ampliação da participação social. Busca criar espaços de diálogo, formação e articulação que ampliem a capacidade de mobilização e influência das organizações nos territórios.

Ao longo de 2024, os encontros foram marcados pelo compartilhamento de experiências exitosas no enfrentamento à violência e às violações de direitos.

GT de Comunicação

Uma das formações de destaque abordou o papel dos Conselhos Tutelares na garantia de direitos, conduzida por Daiane Corrêa, técnica de uma das organizações da Rede. A atividade contribuiu para o fortalecimento técnico das equipes e ampliou sua capacidade de articulação com os mecanismos institucionais de defesa de direitos.

Um momento emblemático foi a participação do GT em uma plenária do Fórum de Políticas Públicas de Florianópolis, com presença do Ministério Público, reforçando o compromisso com a incidência qualificada e o exercício da cidadania.

GT de Gestão e Inovação

O GT de Gestão e Inovação assessora as coordenações gerais da Rede IVG em áreas como gestão de pessoas, recursos, comunicação e inovação organizacional. Sua atuação estimula a cultura de rede e contribui para o fortalecimento das práticas institucionais.

Contando com a assessoria da professora Dra. Gabriela Fiates (UFSC), em 2024, os encontros formativos e os processos de escuta interna resultaram em uma nova organização do GT, que será dividida em dois grupos a partir de 2025:

  • GT de Gestão Estratégica: focado em tendências, inovação, captação de recursos e fortalecimento das relações interinstitucionais.
  • GT de Gestão Operacional: dedicado à qualificação dos processos internos, à tomada de decisão e à responsabilização das equipes.

GT de Comunicação

Um marco relevante desse processo foi a implantação da Matriz Blue, ferramenta que permitiu mapear o nível de maturidade da gestão nas organizações da Rede. Os dados obtidos orientarão as formações e ações de apoio para 2025, com foco em eficiência, inovação e impacto social qualificado.

GT Pedagógico

Formado por representantes das coordenações de projetos, segmentos e áreas pedagógicas, o GT Pedagógico tem como missão fortalecer processos educativos em rede que promovam uma educação integral, humanizada e antirracista.

Em 2024, o grupo optou por um processo formativo baseado em leituras e discussões internas, partindo do tema central “Ser, Olhar e Sentir o Mundo em Rede — tudo está interligado.” 

A cada encontro, foram partilhadas boas práticas e construído um repertório coletivo de atuação pedagógica. Inspiradas por obras de autores como Ailton Krenak e Barbara Carine, as discussões abordaram a construção de ambientes leitores e escritores, o enfrentamento ao racismo e a valorização das narrativas locais.

GT de Comunicação

Em sua 11ª edição, realizada em 26 de julho no Teatro do CEMJ, em Florianópolis, o Seminário retomou o formato presencial com o tema: “Ser, olhar, sentir o mundo em REDE – tudo está interligado.” Foram mais de 375 participantes reunidos em uma programação que incluiu mesas, palestras e vivências. A proposta foi aprofundar o entendimento de uma educação antirracista, conectada com o cotidiano das crianças, adolescentes e jovens — majoritariamente negros — atendidos pela Rede.

Como preparação, o GT promoveu leituras coletivas das obras Ideias para Adiar o Fim do Mundo, de Ailton Krenak, e Como Ser um Educador Antirracista, de Bárbara Carine. Esses encontros foram fundamentais para criar uma base comum entre as equipes pedagógicas, que passaram a integrar essas reflexões em suas práticas cotidianas.

O Seminário também contou com a participação de convidados como Pe. Vilson Groh, Eduardo Brasileiro, Irene Reis e Bárbara Carine, cuja presença foi marcante ao provocar o reconhecimento do racismo como estrutura e a necessidade de um letramento racial que vá além da sala de aula, alcançando toda a comunidade educativa.

O movimento antirracista, trabalhado com Bárbara Carine, apresentou-se como uma forma de programar o fim de um mal estrutural e histórico: o racismo. Em diálogo com outras lutas por justiça — das populações LGBTQIA+, indígenas, mulheres, refugiadas —, o antirracismo se configura como a face de uma história que se recusa a repetir os mesmos enredos coloniais. É sobre reescrever a própria narrativa e garantir que todos, sem exceção, tenham direito a existir com dignidade.

Nesse contexto, a educação — escolar ou comunitária — precisa assumir o compromisso de descortinar vozes silenciadas, dar lugar ao trânsito de identidades e abrir caminhos para o pertencimento. O Seminário foi esse espaço germinante, onde se começou a cultivar uma REDE IVG antirracista. Um processo de semeadura que começa no sentir e se expande no agir.

Ter Bárbara Carine como referência teórica e presença inspiradora foi fundamental para que educadores e educadoras fora da sala de aula também pudessem se reconhecer como atravessados pelo racismo e corresponsáveis por transformá-lo.

No fundo, o que esse percurso nos convida é a continuar perguntando, como Saramago em A Ilha Desconhecida: qual é o projeto de vida que buscamos? E como a educação pode ser a embarcação que nos leva até ele?

Um exemplo potente do desenvolvimento do tema e da imersão na proposta do GT Pedagógico é o CEDEP, que, a partir do tema formativo do ano, estruturou eixos de trabalho para suas formações e paradas pedagógicas.

Inspirado no movimento Sankofa — “voltar e pegar tudo o que ficou no caminho” —, conceito resgatado também pela pesquisadora Bárbara Carine, o CEDEP iniciou um processo profundo de retomada e reorientação pedagógica. Esse movimento nasceu da constatação, durante a avaliação do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), de que as ações voltadas à diversidade não estavam avançando como desejado. Foi necessário parar, olhar para trás, reconhecer lacunas e se comprometer com um novo ciclo de estudos e práticas sobre relações étnico-raciais, povos originários, gênero, sexualidade e inclusão de pessoas com deficiência.

A partir dessa reflexão, emergiu uma construção coletiva inovadora: os quatro eixos pedagógicos, cada um com um conceito-âncora de matriz africana, alinhados ao tema central do ano da Rede IVG – Ser, Olhar e Sentir o Mundo em Rede – Tudo Está Interligado:

Eixo I – SER (Ori): Eu me reconheço, eu me aceito;

Eixo II – OLHAR (Baobá): As raízes que nos ligam e nos nutrem;

Eixo III – SENTIR (Ubuntu): Eu sou porque nós somos;

Eixo IV – INTERLIGAR PARA TRANSFORMAR (Sankofa): Ação com o coração.

Essa trajetória marca um momento de virada. A escolha pela intelectual “diferentona” Bárbara Carine como base teórica para a proposta antirracista da Rede IVG simboliza o desejo de uma educação que rompe com padrões hegemônicos e convida à reinvenção crítica e afetiva do fazer pedagógico. É um passo concreto no compromisso da Rede IVG com uma educação que transforma realidades e reposiciona os sujeitos no centro da construção de sentidos.

Outro exemplo inspirador foi o IVG Talks, espaço criado no Seminário de Educadores da Rede IVG para dar visibilidade às práticas educativas que emergiram a partir do tema central. Nele, foram apresentadas iniciativas como o Comitê Antirracista da MESMLM, o “Dia do Cuidar” da MESSJ, as experiências em arte-educação e sustentabilidade, e as práticas com tecnologia e meio ambiente do Pode Crer — revelando a força das OSCs na articulação de temas estruturantes da sociedade brasileira por meio de metodologias participativas.